LUDOTERAPIA: A PSICOTERAPIA ATRAVÉS DO BRINCAR
A ludoterapia é a psicoterapia voltada para o tratamento
psicológico de crianças. A principal ferramenta dessa abordagem é a
brincadeira. É através do ato de brincar que o psicólogo tem acesso ao mundo
interior da criança e consegue ajudá-la a superar os desafios que a afligem.
Com jovens e adultos, é possível aplicar técnicas terapêuticas
diretas e de ligeiro confronto de ideias e crenças para estimular insights ou
outras formas de pensar. Já com as crianças, foi preciso desenvolver um método
correspondente as suas capacidades cognitivas.
Os próprios pais e familiares já conseguem observar como é
difícil conversar logicamente
com as crianças sobre o que as aborrecem. Por se expressarem
de maneira única, suas atitudes são mal interpretadas e, muitas vezes,
silenciadas pelos adultos.
Esta abordagem surgiu para possibilitar a análise
comportamental das crianças por meio de uma linguagem que conseguem entender e
replicar: o lúdico.
O INÍCIO DA LUDOTERAPIA
Em 1920, a psicanalista Melanie Klein (1882-1960)
desenvolveu o método de brincar para analisar o comportamento infantil. Essa
técnica permitiu acessar o inconsciente bem como memórias e experiências
recalcadas das crianças.
De acordo com a sua teoria, o brincar é capaz de mostrar as
fantasias, interesses e apreensões projetados nos brinquedos e nas brincadeiras
pela criança, influenciados principalmente pelo relacionamento com os pais.
Assim, é possível fazer correlações com experiências reais
para descobrir a origem do
problema. Afinal, a criança representa na brincadeira o
mundo que conhece.
Este método também é extremamente eficaz no tratamento
terapêutico de crianças que sofreram traumas, como abusos ou acidentes ou morte
de um familiar. Ele possibilita que elas expressem sentimentos profundos e
seguramente revivam lembranças sobre o ocorrido até que estejam prontas para
falar.
Anna Freud (1895-1982) a filha mais nova de Sigmund Freud,
também desenvolveu estudos sobre a ludoterapia. Diferentemente de Melanie, Anna
acreditava que o brincar é uma forma de autoexpressão, não de representação
simbólica do “eu” interior da criança.
O brinquedo tinha como objetivo seduzir a criança para o
atendimento terapêutico e ser associado a uma ação educativa. Logo, a abordagem
de Anna era mais psicopedagógica do que analítica. O brincar era uma atividade
secundária.
Ela também trabalhou o estabelecimento de laços de confiança
entre o terapeuta e a criança, tendo o brinquedo como ponto de partida.
CARACTERÍSTICAS DA LUDITERAPIA
O consultório psicológico para o atendimento da criança
contém jogos de tabuleiro, bichos de pelúcia, bonecas, papel e lápis de cor e
muitos outros brinquedos.
Esses são os recursos utilizados pelo profissional para
analisar o comportamento da criança. Além disso, são feitas brincadeiras para
incentivar a criança a se expressar de forma espontânea.
A criança não consegue compreender completamente as suas
emoções, pensamentos e interpretações do mundo externo. Além de não ter as
capacidades linguísticas necessárias para se comunicar com coerência, o
autocontrole é pouco desenvolvido. Por isso, é mais fácil exteriorizar
sentimentos através do choro, da birra, da manha e, enfim, do ato de brincar.
A ludoterapia consegue acessar os conflitos, medos e
dificuldades mais íntimos da criança, pois, de certa forma, ela sabe o que está
expondo no momento da terapia.
Ela representa situações vividas no cotidiano familiar e
escolar as quais não se sente confortável para compartilhar com a família ou
não sabe como fazê-lo. Com o brincar, a
criança sente-se segura o suficiente para contar “segredos”
sutilmente ao psicólogo.
Há diversas técnicas terapêuticas utilizadas nesta modalidade de psicoterapia.
DESENHOS
O desenho é um método bastante assertivo para descobrir as
perturbações da mente infantil. É possível até mesmo identificar traços da
personalidade por meio do tipo de desenho, da firmeza do lápis, do
enquadramento das figuras na página, entre outros aspectos.
FAZ DE CONTA
O faz de conta pode ser explorado tanto com bonecos quanto
com outras brincadeiras imaginativas. Por imitar a vida real, o faz de conta
deixa transparecer a dinâmica familiar ou escolar, sendo possível identificar
fatores problemáticos. Outro aspecto desse tipo de brincadeira é a
identificação de necessidades que não estão sendo cumpridas na realidade.
PSICODRAMA INFANTIL
O psicodrama é um método de dramatização utilizado por
diversos psicólogos para compreender os sentimentos e crenças mais intrínsecos
do paciente. São usadas encenações teatrais para dar voz a diversas emoções e
praticar a mudança de perspectiva já que os papéis dos personagens são trocados
entre o paciente e o psicólogo.
JOGOS
Jogos da velha, tabuleiro, memória, baralho, bola de gude, e
muitos outros, são janelas para a forma de pensar e raciocinar da criança.
Também são técnicas que permitem trabalhar a frustração e competitividade e
identificar as maiores preocupações da criança durante o jogo. Quando um jogo
novo é introduzido, é possível observar como a criança lida com
situações novas.
Eventualmente, quando sente confiança no terapeuta, a
criança começa a falar mais abertamente sobre os problemas.
COMO A CRIANÇA EXPRESSA EMOÇÕES
O desenvolvimento emocional na criança é gradual. Os pais
devem ficar atentos para as mudanças de comportamento para melhor
compreendê-las e evitar conflitos. Muitas vezes, a forma “má criada” que a
criança se comporta é assim denominada apenas pelos pais e por outros adultos,
e não por ela.
Como não conhece maneiras saudáveis de expressar o que
sente, a criança grita, esperneia e fica emburrada. Outras crianças, no
entanto, podem se fechar para o mundo, isolando-se
voluntariamente.
O pronto principal é que a criança tem dificuldade para
digerir as emoções e o faz da maneira que acredita ser melhor, apesar de, na
realidade, raramente ser.
Entre os três a seis anos, os pequenos desenvolvem suas
emoções até um ponto que conseguem nomear algumas delas, porém, não tem nenhum
autocontrole. Já entre os sete a 12 anos, a criança possui uma ligação maior
com o que sente. Ela ainda precisa da orientação dos pais, mas a conexão com as
emoções é mais evidente.
Outro fator a ser considerado é que a criança está descobrindo
o mundo e pode ter medo de confrontar situações que não são normalmente vividas
em casa. É comum o bullying ficar em segredo, pois a criança não sabe lidar com
aquela situação desagradável.
Há muitos casos de pais que descobrem que o filho passou por
vários momentos de bullying na escola somente anos depois. A partir daí,
começam a compreender os comportamentos atípicos que o filho tinha na infância
ou na adolescência.
Todavia, a repressão é perigosa.
As emoções reprimidas de experiências ruins na infância e na adolescência retornam em forma de transtornos mentais e problemas emocionais na vida adulta. Portanto, a livre expressão de sentimentos deve ser encorajada em todo momento. A criança deve aprender a importância de aceitar e processar as suas emoções naturalmente.
BENEFICIOS DA LUDOTERAPIA
O tratamento ludoterapêutico traz diversos benefícios para o
desenvolvimento emocional e pessoa da criança.
• Auxilia
na exteriorização de sentimentos e emoções;
• Encoraja
a autoexpressão;
• Permite a
liberação de medos, apreensões, instabilidade, irritabilidade, insegurança,
frustrações;
• Eleva a
autoestima;
• Melhora
as habilidades sociais e relacionamentos com pais, professores e colegas;
• Facilita
a compreensão dos próprios sentimentos por parte da criança;
• Desenvolve
a habilidade de lidar com frustração e situações difíceis;
• Preveni
futuros conflitos interpessoais.
Nenhum comentário:
Postar um comentário